O bom filho à casa torna ou, “ todos por um”.

12-02-2017

Vi a Raquel pela primeira vez, há uns anos, numa prova de Trail Running. Inscreveu-se na distância de 42 km, mas a prova durou 54, o que vez com a que a Raquel completasse a sua primeira " ultra". Cortou a meta com um histórico salto para um colo e gritos eufóricos regados a lágrimas de alegria. Pensei, " nem que seja a última, mas sempre que concluir uma prova de Trail Runnig, quero cortar a meta com este entusiasmo e ter um colo para me amparar ou um abraço para me confortar". Conhecia-a pessoalmente, cerca de um ano mais tarde, num treino de Sexta-Feira Santa, já com alguns pódios conquistados e eu com vários últimos lugares no currículo. Tratou-me ( a mim e a todos os presentes ) como iguais. Iguais uns aos outros, iguais a si, como se todos tivéssemos a mesma composição física, as mesmas capacidades, o mesmo empenho. Se no futuro vai continuar a somar pódios ou não, não faço ideia. Sei que já tem um histórico impressionante e continua a tratar-me ( e a todos com que se cruza nos trilhos ) com o mesmo respeito, a mesma consideração, a mesma motivação. E continua a correr com um brilho magnífico nos olhos. Hoje encontrei-a no STUT - Santo Thyrso Ultra Trilhos. Um ano volvido, voltei a Santo Tirso, para participar nesta prova embora numa distância mais curta, de 28 Km ( 29 Km ). Encontrei o mesmo percurso marcado por alcatrão e empedrado, com metros de lajes alisadas, e bermas delineadas a musgo. Encontrei os mesmos trilhos mágicos, com ares de floresta e toques de fábula, desta vez com um clima significativamente menos adverso. Encontrei o mesmo empenho e trabalho de quem preparou e marcou excepcionalmente a prova e dos mesmos voluntários distribuídos pelo caminho. Mas encontrei, sobretudo, pessoas como a Raquel, que competem para os primeiros lugares, que assumem a responsabilidade de apoios e patrocínios, mas correm por paixão aos trilhos, mais do que aos resultados. Que são humildes que baste para, quando possível, correr com os amigos, pelos amigos e pelo puro e genuíno prazer de correr na natureza. Encontrei pessoas cívicas e empenhadas e extremamente humanas. Corri também eu, com extrema satisfação. Corri com amigos. Sim, amigos de várias equipas, que poderiam ter alcançado muitíssimo melhores resultados, formaram uma só equipa e acompanharam-me todo o percurso. Com o espírito de descontracção de quem não tem necessidade de impressionar ninguém, impressionaram todos os que por nós passaram, com gigantesca motivação. Homens ou mulheres, mais novos os mais velhos, em melhor ou pior forma, para todos o Jorge e Mário Ferreira tinham sempre uma palavra, uma graça, um conselho. Para mim, sempre uma palavra amiga e uma mão para amparar nas descidas. O Paulo Brás, o Luis e o Mário Costa, nunca me deixavam para trás nas subidas. E a Lara, foi sempre com a faca nos dentes a forçar-me a dar mais de mim, sem nunca deixar de usufruir da natureza que nos envolvia. Não fomos passar o tempo. Não fomos tirar fotografias. Fomos correr, com o " empenho e dedicação" de que fala o José Capela no seu poema, mas também com o " companheirismo e amizade" que podemos encontrar noutra estrofe. As provas, os campeonatos, querem-se renhidos, competitivos, mas também saudáveis, éticos, humanos. E as equipas querem-se dedicadas, responsáveis, trabalhadoras e unidas, como esta equipa, composta por várias equipas e por pessoas que põe de lado os seus interesses próprios, em favor de um interesse comum. Pessoas que conseguem treinar para os atingir os seus objectivos, sem negligenciar aqueles que se mantiveram com objectivos menos ambiciosos. E eu, retribui, cortando a meta com um sorriso gigante e o abraço do Paulo e de toda esta equipa, para me confortar, como sempre ambicionei fazer!



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