Sangue, suor e gargalhadas

01-05-2019

             Sangue, suor e gargalhadas

"Bom dia! O que se pesca por aqui?" "Oh menina, tem dias que é trutas, ou lúcios ou achigãs, mas hoje estamos aqui a ver-vos correr e ainda não pescamos nada". Não fiquei preocupada. Este sabido pescador de fim-de-semana tinha levado febras para grelhar. Almoço...não faltaria. Conhecemo-lo hoje, em Canedo, na margem esquerda do Rio Inha, esse desconhecido surpreendente: manto estendido entre vegetação garrida, límpido, fresco, tranquilizador.


Fomos ao Trilho dos Pernetas, nas serras de Canedo, em Santa Maria da Feira. Correr em Canedo foi terapêutico, desafiante, surpreendente. Foi convívio, partilha, olhos abertos de espanto. Foi água fresca de todos os braços do inha, em forma de lagos, azenhas, ribeiros e charcos, foi sal a fritar na pele do rosto a ferver, foi uma mini fresca e aletria caseira nos abastecimentos.

Foi sentir o aroma dos eucaliptos e pinheiros-bravos, mergulhar os pés em corredores de lama cravados entre sobreiros, castanheiros e cordéis de maias, foi o respirar alto e lento nas subidas que a organização da prova improvisou.

Foi o sangue a escorrer das fendas abertas na barriga das pernas, o suor resultante do calor abrasador, as gargalhadas sinceras aquando dos incentivos dos populares bem-dispostos.

O trail running é o catalisador dos esforços de inúmeras associações no sentido de dar a conhecer as suas terras, as suas povoações, as suas freguesias. Grande parte das provas de trail running decorre em trilhos anteriormente vedados e permite o acesso a lugares que, inúmeras vezes, os próprios habitantes mal conhecem. Canedo, a 30 minutos do Porto, foi uma excecional surpresa. Temos tanto e tão bom bom...pior do que não valorizar é, por vezes, nem saber que temos. Escarpas xistosas pregadas em cobertores de vegetação florestal densa e vistosa, lagoas, ribeiros e charcos, povoações dispersas de gente afável, superação de quem não se sentia capaz, de quem lutou por alcançar resultados que conseguiu e compaixão de quem nos acompanhou desde a porta de casa. 

Ana

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